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O Plano Nacional de Leitura – em colaboração com as Bibliotecas Municipais da Rede Pública, com o IPLB e com a RTP – promove no ano lectivo de 2007 / 2008, a 2.ª edição do Concurso Nacional de Leitura.
Trata-se de uma proposta dirigida a todas as escolas do Ensino Secundário e do 3º Ciclo do Ensino Básico, que será coordenada pelo escritor e professor universitário Fernando Pinto do Amaral.
O regulamento pode ser consultado aqui.
30 mandamentos para ser leitor, escritor e crítico
Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.
Algumas turmas do 9.º ano, nas aulas de Formação Cívica, vão ler A Ilha na Rua dos Pássaros, de Uri Orlev.
Sinopse:
A Segunda Guerra Mundial está em curso. Os tempos são difíceis na Polónia, especialmente para os judeus. Alex é judeu e tem onze anos. Quando a sua mãe desaparece e o pai é “seleccionado” pelo exército alemão para ir para um destino desconhecido, Alex, completamente sozinho, é obrigado a refugiar-se num edifício abandonado na Rua dos Pássaros onde vai aguentar um Inverno. Pacientemente, sem pressas, Alex vai sobrevivendo, enquanto espera o regresso do pai. Por um nicho de luz, Alez consegue vislumbrar os escombros, a degradação e miséria total a que aquela terra, outrora tão apetecível, foi votada.
Coragem e valentia não são excepcionais em tempo de guerra, mas Alex só tem 11 anos e a sua história é, na verdade, sobre o desejo de alguém vencer a crueldade e a injustiça.
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Carta à personagem principal do livro (escrita por um aluno da Escola EB 2,3 de Arrifana), para ler aqui.
As turmas de 8.º ano do 3.º ciclo estão a ler na sala de aula Momentos de Aqui, de Ondjaki. Sobre o conjunto de contos, afirma Mia Couto: “Esta dependência da fabulação mergulha sempre na infância. Esse desejo de escrever não na página mas na própria voz – isso é vício que se retorceu em pequeno. E se reforçou num mundo cheio de oralidade. Felizmente, Ondjaki não se lavou dessa doença. Porque o que ele faz não é o simples deitar de uma história na página do livro. Mais do que isso: ele cria uma história para a nossa própria vida. Essa nossa vida que é a única e miraculosa fonte de acontecência. Se existe viagem é esta: percorrer as diferente fabulações de nós mesmos, contar essa maravilhações aos outros. E confessar, sem vergonha pública: olhe, eu estou sendo este. Mas já fui uns que morreram. Quem sabe serei quem, depois deste mim?”
Papai, me compra a Biblioteca Internacional de Obras Célebres.
São só 24 volumes encadernados
em percalina verde.
Meu filho, é livro demais para uma criança.
Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
Quando crescer eu compro. Agora não.
Papai, me compra agora. É em percalina verde,
só 24 volumes. Compra, compra, compra.
Fica quieto, menino, eu vou comprar.
Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca
bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com um arranhão recuso, já sabe:
quero devolução de meu dinheiro.
Está bem, Coronel, ordens são ordens.
Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro,
fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga
vai levando tamanho universo.
Chega cheirando a papel novo, mata
de pinheiros toda verde. Sou
o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não; inveja de mim mesmo)
Ninguém mais aqui possui a coleção
das Obras Célebres. Tenho de ler tudo.
Antes de ler, que bom passa a mão
no som da percalina, esse cristal
de fluida transparência: verde, verde.
Amanhã começo a ler. Agora não.
Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas. Osíris, Medusa,
Apolo nu, Vênus nua… Nossa
Senhora, tem disso nos livros?
Depressa, as letras. Careço ler tudo.
A mãe se queixa: Não dorme este menino.
O irmão reclama: Apaga a luz, cretino!
Esparmacete cai na cama, queima
a perna, o sono. Olha que eu tomo e rasgo
essa Biblioteca antes que pegue fogo
na casa. Vai dormir, menino, antes que eu perca
a paciência e te dê uma sova. Dorme,
filhinho meu, tão doido, tão fraquinho.
Mas leio, leio. Em filosofias
tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver. Como te devoro,
verde pastagem. Ou antes carruagem
de fugir de mim e me trazer de volta
à casa a qualquer hora num fechar
de páginas?
Tudo que sei é ela que me ensina.
O que saberei, o que não saberei
nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira
Bem-vindos ao blog «Ler para crer», um espaço de partilha de gosto pelos livros e pela leitura da Biblioteca da Escola EB 2,3 Padre Alberto Neto.
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