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Comemora-se hoje o Dia Internacional do Livro Infantil. Para assinalar essa data, temos vindo a publicar desde a a passada terça-feira, uma fábula por dia. Hoje é a quinta e última:
O velho, o rapaz e o burro
O mundo ralha de tudo,
Tenha ou não tenha razão,
Quero contar uma história
Em prova desta asserção.
Partia um velho campónio
Do seu monte ao povoado,
Levava um neto que tinha
O seu burrinho montado.
Encontra uns homens que dizem:
— Olha aquela que tal é!
Montado o rapaz, qu’é forte,
E o velho trôpego a pé.
— Tapemos a boca ao mundo —,
O velho disse: — Rapaz,
Desce do burro, qu’eu monto,
E vem caminhando atrás.
Monta-se, mas dizer ouve:
— Que patetice tão rata!
O tamanhão de burrinho,
E o pobre pequeno à pata.
— Eu me apeio —, diz prudente
O velho de boa-fé,
— Vá o burro sem carrego,
E vamos ambos a pé.
Apeiam-se, e outros lhe dizem:
— Toleirões, calcando lama!
De que lhes serve o burrinho?
Dormem com ele na cama?
— Rapaz —, diz o bom do velho,
— Se de irmos a pé murmuram,
Ambos no burro montemos,
A ver se inda nos censuram.
Montam, mas ouvem de um lado:
— Apeiem-se, almas de breu,
Querem matar o burrinho?
Aposto que não é seu.
— Vamos ao chão —, diz o velho,
— Já não sei qu’hei-de fazer
O mundo está de tal sorte,
Que se não pode entender,
E mau se monto no burro,
Se o rapaz monta, mau é,
Se ambos montamos, é mau,
E é mau se vamos a pé:
De tudo me têm ralhado,
Agora que mais me resta?
Peguemos no burro às costas,
Façamos inda mais esta.
Pegam no burro; o bom velho
Pelas mãos o ergue do chão,
Pega-lhe o rapaz nas pernas,
E assim caminhando vão.
— Olhem dois loucos varridos! —,
Ouvem com grande sussurro,
— Fazendo mundo às avessas,
Tornados burros do burro!
O velho então pára e exclama:
— Do qu’observo me confundo,
Por mais qu’a gente se mate
Nunca tapa a boca ao mundo.
Rapaz, vamos como dantes,
Sirvam-nos estas lições;
É mais tolo quem dá
Ao mundo satisfações.
(Trad. de Curvo Semedo)
Comemora-se amanhã, dia 2 de Abril, o Dia Internacional do Livro Infantil. Para assinalar essa data, publicaremos todos os dias uma fábula. Hoje é a quarta:
O Lobo e o Cão
Não tinha um lobo mais do que a pele e o osso.
Sinal é que, de orelha arrebitada,
Bem vigilante andava a canzoada.
Encontra o lobo um cão, forte, grosso,
Nutrido, luzidio, uma beleza!
Que distraído abandonara a estrada.
Sorri-lhe a nédia presa.
Saltar-lhe logo ali, fazê-lo em postas
O seu desejo fora. Dura empresa!
A luta era infalível. Voltar costas,
Não usam perros quando são valentes,
E, mais, os brutos!, Dão às vezes cabo
Do fero contendor! Diabo!… Diabo!
Então aquele, com aqueles dentes!
Humilde o lobo, pois, encolhe a cauda;
Chegasse ao cão; abaixa-lhe a cabeça;
Puxa conversa; diz que folga em vê-lo,
Que deixa que ele admire, que ele aplauda
Topá-lo assim… e com tão bom cabelo!…
E rijo! E gordo! Um frade! Uma abadessa!
— Esplêndido senhor. — O cão responde —,
De vós depende o ter igual gordura.
Fugi dos bosques, onde,
Por teima da desgraça,
De fome e frio só achais fartura,
Vós, senhor lobo, e a vossa pífia raça.
Dias e dias sem comerem nada!
E lá por festas, raras, esquecidas,
Um petisquinho conquistado à espada,
Tragado às escondidas!
Ai é certa a morte!
Furtais-vos a seus braços!
Segui, segui meus passos;
Tereis outro destino e melhor sorte.
— Mas como? — volve o lobo.
— Fazer então que devo?
— Bagatela:
Nem morte de homem. Nem de igreja roubo;
Simplesmente estas coisas: não dar trégua
A santa gente rota, mendicante,
Bordão numa das mãos, noutra a tigela,
Que vem inda à distância duma légua
E já tresanda a essência de tratante.
Lamber as mãos ao dono; ser submisso…
Dar coca — é o termo próprio — ao dono e a todo
Quanto bicho-careta houver em casa.
Salário apanhareis que vos apraza:
Ossos das aves, rodas de chouriço,
Restos vindos da mesa, e tudo a rodo!
Até uns tagatés em cima disso!
Tendo prestado ao cão atento ouvido,
O lobo, coitadinho!,
Com perspectiva tal enternecido,
Não tugiu nem mugiu, mas fez beicinho!
Iam a caminho já do povoado,
Quando o lobo notou que no pescoço
O cão era pelado!
— Que tens aí? — pergunta com alvoroço.
— Nada, que eu saiba. — Nada?! — Frioleira!
— Mas afinal o que é? — Ora!… A coleira, Com que à noite me prendem junto à porta…
— Prender-te?! — o lobo exclama. — Não sais fora,
Não corres livre pela terra inteira
Quando te dá na gana, e a toda a hora?
— Nem sempre. Isso que importa?
— Tanto importa que toda a trincadeira
Com que me acenas, um tesouro embora,
Por tal preço não quero!
— O lobo finda,
Põe-se logo na perna, e corre ainda!
(Trad. de Francisco Palha)
Comemora-se no próximo sábado, dia 2 de Abril, o Dia Internacional do Livro Infantil. Para assinalar essa data, publicaremos todos os dias uma fábula. Hoje é a terceira:
Os Dois Machos
Encontraram-se dois machos
Em um caminho deserto,
E os moços tinham ficado
Bebendo vinho ali perto.
Um era do Estado e vinha
Carregado com dinheiro,
O outro farinha levava,
Tendo por dono um moleiro.
O que trazia a riqueza
Era mais forte e mais moço,
Tinha albarda, atafais novos
E campainha ao pescoço.
O que levava a farinha
Ia todo num frangalho,
Rota albarda, atafais podres,
Nem sequer tinha um chocalho.
O primeiro, blasonando
Da grandeza em que se via,
Ao segundo, velho e pobre,
Mofas e injúrias dizia.
Eis que de um bosque saltou
De ladrões um bando ingente,
E ao que levava a riqueza
Atacam subitamente.
Ele, fiado em ser forte,
Quer-lhes fugir, mas em vão,
Que três facadas no peito
Pregam com ele no chão.
Por morto os ladrões o deixam
Roubando-lhe o ouro que tinha,
Ficando isento de estrago
O que levava a farinha,
O qual para trás voltando,
Vendo o amigo moribundo,
Clama: — Por pobre escapei,
Vejam bem o que é o mundo!
E na terra, as mais das vezes,
Dita o viver ignorado,
Tem risco maior na queda
O qu’está mais levantado.
(Trad. de Curvo Semedo)
Comemora-se no próximo sábado, dia 2 de Abril, o Dia Internacional do Livro Infantil. Para assinalar essa data, publicaremos todos os dias uma fábula. Hoje é a segunda:
O corvo e a raposa
E fama que estava o corvo
Sobre uma árvore pousado,
E que no sôfrego bico
Tinha um queijo atravessado.
Pelo faro àquele sítio
Veio a raposa matreira,
A qual, pouco mais ou menos,
Lhe falou desta maneira:
— Bons dias, meu lindo corvo;
És glória desta espessura;
És outra fénix, se acaso
Tens a voz como a figura!
A tais palavras o corvo
Com louca, estranha afoiteza,
Por mostrar que é bom cantor
Abre o bico, e solta a presa.
Lança-lhe a mestra o gadanho,
E diz: — Meu amigo, aprende
Como vive o lisonjeiro
A custa de quem o atende.
Esta lição vale um queijo,
Tem destas para teu uso.
Rosna então consigo o corvo,
Envergonhado e confuso:
— Velhaca! Deixou-me em branco,
Fui tolo em fiar-me dela;
Mas este logro me livra
De cair noutra esparrela.
(Trad. de Bocage)
Comemora-se no próximo sábado, dia 2 de Abril, o Dia Internacional do Livro Infantil. Para assinalar essa data, publicaremos todos os dias uma fábula. Hoje é a primeira:
A Cigarra e a Formiga
Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o Verão,
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso estio.
— Amiga, — diz a cigarra —
Prometo, à fé de animal,
Pagar-vos antes de Agosto
Os juros e o principal.
A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
— No verão em que lidavas? —
A pedinte ela pergunta.
Responde a outra: — Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.
— Oh, bravo! — torna a formiga
— Cantavas? Pois dança agora!
Versão trad. por Bocage
Fábulas de La Fontaine
Tradução e adaptação de Maria Alberta Menéres
Esta semana trazemos-te um livros da autoria de uma dos mais famosos autores de fábulas de sempre: La Fontaine. Duas dezenas de fábulas traduzidas e adaptadas por Maria Alberta Menéres, com ilustrações de José Garcês.
Uma das suas fábulas mais conhecidas é «O Leão e o Rato», que aqui reproduzimos:
Temos de avisar a tempo toda a gente:
É bom ter junto a nós quem mais pequeno é.
Qualquer fábula é testemunho evidente
Do que, mais que provado, é dito em boa fé.
Entre as patas de um Leão
Se viu um Rato, em hora distraída.
O Rei dos animais, em tal ocasião,
Magnânimo se mostra e não lhe tira a vida.
Esta bondade, não a fez em vão.
Mas quem ia prever a situação
De um Leão precisar de um vil Ratito?
Foi ao fim da manhã que, sem razão para tal,
Sobre o Leão tombou uma rede fatal
E na armadilha cai um Rei Leão aflito.
Eis que o Rato lhe acode: à rede mete o dente
E com calma desfaz a malha que o prende.
Saber dar tempo ao tempo e ter paciência
Valem mais do que força e violência.
Se quiseres ler e ouvir mais fábulas de La Fontaine (e outros autores), visita o fantástico sítio No mundo das fábulas. Para saberes mais La Fontaine, podes consultar esta página (em francês) e o artigo sobre La Fontaine na Wikipedia
Uma centena de fábulas de La Fontaine, num livro magnífico ilustrado por José Emídio:
Eis um exemplo:
O corvo e a raposa
E fama que estava o corvo
Sobre uma árvore pousado,
E que no sôfrego bico
Tinha um queijo atravessado.
Pelo faro àquele sítio
Veio a raposa matreira,
A qual, pouco mais ou menos,
Lhe falou desta maneira;
-Bons dias, meu lindo corvo;
És glória desta espessura;
És outra fénix, se acaso
Tens a voz como a figura!
A tais palavras o corvo
Com louca, estranha afoiteza,
Por mostrar que é bom cantor
Abre o bico, e solta a presa.
Lança-lhe a mestra o gadanho,
E diz: – Meu amigo, aprende
Como vive o lisonjeiro
A custa de quem o atende.
Esta lição vale um queijo,
Tem destas para teu uso.
Rosna então consigo o corvo,
Envergonhado e confuso:
– Velhaca! Deixou-me em branco,
Fui tolo em fiar-me dela;
Mas este logro me livra
De cair noutra esparrela.
(Trad. de Bocage)
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